[TETSU] Centro Comercial

Nossa, ele explicou tudo mesmo! Demos sorte de encontrar esse Shinkon, ou ele nos encontrar, na biblioteca. Certeza que se fosse alguém de patente maior ou até mesmo de humor negativo, daria um cascudo na minha cabeça por ficar perguntando coisas do seu serviço. Em alguns momentos, parte do que ele falava me lembrou muitas frases do meu pai, as cobranças por responsabilidade, por nos tornarmos mais forte, por levarmos as coisas de forma mais séria a um ponto onde nem brincar, a não ser escondido, podíamos. Ainda assim, parando pra pensar, eu continuo sendo um garoto travesso e que está deixando tudo de lado somente por não tê-lo por perto me cobrando. E se ele viesse me visitar Tetsu? Eu estaria muito, muito ferrado.

Conhecer Musashi?!

— Hehehe, vamos com calma... — se a minha reação foi estranha, a de Tomo foi o triplo. Ele engoliu a própria língua e duro como uma pedra, se despediu com reverências, uma pra cada, saindo dali.

Sobre o samurai, eu lembro muito bem de ouvir em conversas de criança na Academia como ele era bravo e se você sequer chegasse perto do portão pra sair, ele ia cortar sua perna com as espadas. Aliás, se me lembro bem, teve um menino que disse que o irmão mais velho do primo do amigo da irmã dele - ou era prima? - morreu desse jeito!

— Eu acho que precisamos de um tempinho pra ficarmos mais fortes igual você sabe... Aí podemos ir então... — fui me esquivando, saindo do banco aos poucos. — Preciso ir atrás do meu amigo! Até mais, Shinkon! — droga, esqueci do "senhor".

Será que aquele olho diferentão podia ler meus pensamentos? Espero que não.

Do lado de fora, encontrei Tomo tentando se recompor. Dei duas ou três batidinhas nas suas costas para ajudar, enquanto algumas pessoas passavam por nós e ficavam em dúvida entre perguntar se estava tudo bem ou não. Eu apenas sorri, como se nada estivesse errado pra não criar uma cena que o faria ficar ainda pior.

— Muito bem! É bom ir recuperando o fôlego, porque vamos ao Posto de Missões agora e depois disso, eu tenho um desafio — falei, tirando um pedaço de comida que estava grudado na minha roupa. — E vai ser dos grandes — sorri, mas aquela mesma expressão séria com determinação nos olhos o encarava.

Quando ele estava se sentindo um pouco melhor, partimos então em direção ao local. Ficava bem próximo dali na verdade, então não teria tanta neve acumulando na minha cabeça até chegar lá. Esse frio... nunca vou me acostumar.

Observações:

Saí da biblioteca diretamente para as ruas em direção ao centro comercial. Durante o percurso, comecei a tentar elaborar como treinaria o Akagan. Algumas opções era viáveis: pegar alguma missão que envolvesse rastreamento, treinar mais genjutsus ou bisbilhotar vizinhos, principalmente meus coleguinhas de turma que estavam tão sumidos desde a graduação.

Virando algumas ruas, dobrando umas esquinas, logo cheguei ao lar de descanso para animais shinobi. Laila estava cuidando de pequeno pardal que tinha uma das asas enfaixada.

— Boa tarde, senhorita Laila! — Minha saudação era energética e teatral com um aceno bem largo. A mulher levantou o olhar para mim e abriu um sorriso. Depositou com cuidado a pequena ave em uma espécie de almofada e se voltou a mim.

— Não lembrava de você ser tão animado assim. — Sorriu cobrindo a boca com uma das mãos.

— Bom, da última vez eu estava a serviço. Hoje o assunto é particular. — Ela fez uma expressão interrogativa, mas me dando espaço para que continuasse. — Digamos que eu queira melhorar meu tato com animais. Saber lidar melhor com eles e tal. Como você é uma especialista nisso, pensei em pedir sua ajuda. — O rosto da mulher demonstrou certa surpresa e um sorriso tímido.

— Fico lisonjeada. Talvez eu possa ajudar em algo... — Parou para refletir por um instante. — e talvez possamos fazer uma troca de favores. — Seu rosto parecia corar enquanto ela retirava do avental um pequeno envelope que parecia aqueles de carta. — Então, eu gostaria que você levasse o Gwner para passear e — fez uma leve pausa novamente como se juntasse forças para expor — entregasse isto para o Todori. — Estendeu a carta em direção a mim segurando-a com as duas mãos. Seu olhar focava o chão. Era um tanto fofo.

— Hmm? — Abri um sorrisinho cafajeste. — Fico feliz que os resultados da minha missão tenham gerado frutos além do esperado. — Peguei a carta e notei que ela era perfumada. Laila não estava brincando em serviço. — E sobre o Gwner...?

— Ah, claro! — A mulher se recompôs e me guiou até o cercadinho onde o felino estava deitado com uma expressão emburrada. — O passeio em si tem um propósito, claro. Muitas pessoas, às vezes, acham que animais são objetos e os tratam numa relação de posse. Entretanto são seres vivos com interesses, necessidades, gostos, medos... Enfim... são complexos e precisam ser entendidos e respeitados como tal. — A tímida Laila que havia me entregue a carta não existia durante a explicação. Diante de mim, uma mulher que amava os animais ali presentes e entendia muito bem sobre eles.

— Então meu passeio com o Gwner é para tentar estabelecer um vínculo e entende-lo melhor, certo? — Laila confirmou com a cabeça enquanto pegava o felino nos braços. Por um segundo hesitei. Eu lembrava bem dos arranhões e mordidas da outra vez. Ele sabia ser durão.

— Ele já está se sentindo bem melhor. E está até um pouco mais comportado, né Gwner? — O gato virou o rosto para negar fazer contato visual comigo. Eu já previa que não seria um aprendizado fácil.


Após uma breve despedida e um lembrete da Laila para que eu não esquecesse de entregar a carta a Todori, Gwner e eu seguimos para as ruas do Centro Comercial. O felino caminhava ao meu lado mantendo sua cabeça de focinho empinado e negando me olhar.

— Eu pensei que após compartilharmos um banho gelado e uma vergonha na frente das pessoas, estaríamos mais próximos.

— Miéu... — Um miado que parecia mais dizer um “meh”.

— Bom, então vamos passar no Todori primeiro e depois decidimos para onde ir.

Minha primeira aposta seria ir ao mesmo lugar onde ele se apresentara da última vez. Ao virar a esquina, a ausência de um pequeno aglomerado de pessoas e a falta do som de flauta já denunciava que ele não estava por ali. “Só espero que ele não seja um desses artistas itinerantes que mudam de vila sempre.”

— Vamos dar uma voltinha pelo Centro e ver se achamos ele. Quer visitar algum lugar especial? — O felino ainda me ignorava, mas ao menos não estava tentando fugir.

O Centro possuía muitas lojas atraentes. Roupas, acessórios, brinquedos, bares. Era encantador olhar para as cores e diferentes pessoas reunidas em suas próprias bolhas. Até mesmo o Gwner, vez ou outra, esquecia que tinha que manter a postura indiferente e parecia lançar uns olhares curiosos para algumas lojas. Mas, infelizmente, nenhum sinal ainda do Todori.

Entramos em uma rua que possuía alguns estabelecimentos e casas residenciais. Felizmente, a postura orgulhosa do felino o fazia manter o olhar direcionado para os lados. Pois, bem mais à frente, notei haver uma casa que aparentemente havia sido queimada. O Gwner sofrera um trauma por justamente não ter conseguido salvar o gennin que era seu companheiro em um incêndio. Mesmo não haver mais sinal de perigo naquele local, a visão da situação da casa poderia gatilhar algo negativo nele. Eu precisava fazer algo a respeito.

Concentrei meu chakra rapidamente e logo fiz surgir uma linha de chakra com uma bolha em sua ponta. Envolvi o felino na bolha. Deixá-lo-ia sob o efeito do Kori Shinchū no Jutsu para que ele visse a ilusão de estar me acompanhando. Ele ficaria ali preso naquele looping andando em círculos enquanto eu aproveitaria para descobrir o que havia acontecido no local. Segui em direção a um estabelecimento não muito distante da casa para buscar qualquer coisa a respeito do que ocorrera ali. Mesmo um pouco afastado, ficaria de olho no Gwner.

— Bom dia! — Saudei o homem que estava secando uns copos. O lugar parecia ser uma mistura de mercearia com bar e ficava umas três casas de distância da outra que fora queimada. — Nossa, o que houve ali? — Estiquei meu pescoço em direção ao lugar com uma expressão de curiosidade. O homem pareceu me analisar dos pés à cabeça, demorando seu olhar sobre a bandana amarrada em meu braço direito.

— Pensei que vocês sabiam de tudo o que andam fazendo por aí. — Seu tom de voz era ríspido, quase como cuspindo as palavras. Nós sabíamos de tudo? Ele se referia a shinobis, gennins, homens bonitos que usam óculos escuros? Mantive minha expressão de curiosa fingindo não ter entendido seu tom áspero.

— Eu passei o dia fora da vila ontem. Estou meio por fora. — Abri um sorriso envergonhado. O homem deu um grunhido e mantivemos um encontro de olhares que era desconfortável para quem visse de fora. Da parte dele, ele queria me enxotar dali; da minha parte, olhava por cima dos óculos como uma criança curiosa que não desistiria facilmente. Ele suspirou em derrota.

— Um incêndio, não tá vendo? Ninguém sabe ao certo o que aconteceu. Mas uma de vocês parece ter conseguido resgatar todos. — A última frase foi dita baixa, quase a contragosto.

— Uma heroína então! Que bom que todos estão bem! — Falei animado enquanto batia minhas mãos num tom comemorativo.

— Vocês mesmos causam problemas e querem aparecer como salvadores. — Cuspiu no chão.

— Hmm? Causadores de confusão podem usar diferentes máscaras, não acha? — Sorri de forma despreocupada, apesar de que seu comentário preconceituoso sempre apertava onde doía. Ainda mais eu sendo um estrangeiro. — Obrigado pelas informações, senhor. Tenha um bom dia! — Acenei para ele e corri de volta para o Gwner que já parecia estar se cansando. Peguei o felino em meus braços e desfiz a técnica. Dei meia volta e seguimos por outra rua. Não passaríamos ali em frente de jeito nenhum.

Gwner, a princípio, pareceu confuso. Certamente não entendia quando e como fora parar em meus braços. Ele até tentou protestar um pouco, mas sentia o cansaço físico então pareceu aceitar ser carregado. Apenas lancei um sorriso para ele ao ver sua desistência.

Gasto de Chakra
Kori Shinchū no Jutsu — Rank C — -10 CK

Spoiler:

O tom de voz ríspido e preconceituoso do homem ainda ecoava em minha mente. Ele insinuar que shinobis criavam a doença para vender a cura era doloroso. Quantos emprestavam suas forças diariamente para manter Tetsu em segurança!? Claro que eu não era inocente e sabia que haviam aqueles que viviam movidos por objetivos egoístas e malignos. Mas juntar todos nós como uma única coisa... E eu que sequer pertencia a esta terra de fato. Era por essas pessoas que eu colocaria minha vida em risco? Balancei minha cabeça. Eu estava seguindo para a mesma linha de raciocínio que aquele homem. Muitos me acolheram aqui. O Tetsukage que deu a chance para que todos aqueles que desejassem se tornar shinobis frequentassem a academia. Os senseis que sempre ensinaram teorias e técnicas sem distinções. Algumas pessoas da vila que, diferentes daquele homem e de muitos outros, eram receptivos com a gente. Rasgar o véu era aceitar enxergar a realidade tal qual ela é...

— Miau? — Gwner deu uma remexida em meus braços. Eu estava tão distraído que sequer havia notado que estávamos numa rua repleta de lanchonetes e restaurantes. Meu estômago quase miou junto.

— Com fome? Nós podemos ir em algum lugar com ramen. Espera...

Aos poucos o som de flauta invadiu meus ouvidos. Seria ele? Corri com Gwner nos braços usando o som como guia. Quando me aproximei, ali estava ele, o pretendente de Laila tocando sua flauta suavemente. Fiquei ali aguardando a apresentação acabar enquanto o Gwner parecia mais preocupado em quando iríamos comer.

— Mais uma bela música! — A apresentação terminava e eu logo me aproximava do artista.

— Gentil de sua parte. Outra missão de cuidar de animais? Pedido da Laila?

— Não, não. Apenas um passeio amigável. Mas há um pedido da Laila envolvido no meio. — Abri um sorriso malicioso enquanto uma de minhas mãos alcançava a carta e a outra equilibrava o felino. — Para você.

O olhar de Todori era curioso. O seu toque na carta era cuidadoso como se manipulasse a própria flauta. Quando começou a ler, seu rosto enrubescido entregava o conteúdo.

— Se eu fosse você, não perderia tempo... — Falei já olhando o cardápio da ramen shop que havia ali ao lado. Todori riu.

— Acho que mais tarde vou dar uma passada lá. Os morcegos devem estar sentindo falta também. — Falou enquanto terminava de arrumar suas coisas. — Obrigado por ter me entregue.

Acenei com a cabeça e voltei minha atenção para as opções de rámen.

— Tem com peixe, Gwner. — Um miado animado parecia demonstrar interesse.

Pedi dois rámens e nos sentamos ali na bancada. O dono pareceu não se importar com o gato sentado banco e com as patas apoiadas no balcão Talvez ele fosse acostumado a atender pessoas com animais ali.

Ah, mas quando nossos pedidos chegaram. O cheiro, a aparência. Minha boca salivou. Gwner quase atacou sua tigela, mas o interrompi.

— Devemos agradecer primeiro. — Juntei minhas mãos e esperei ele fazer o mesmo. — Muito bem. Vamos lá. Um, dois, três e: Obrigado pela comida!

— Miauau.



Durante o caminho de volta, o próprio Gwner pediu para ir no meu colo. Também, com o bucho cheio, não ia querer mesmo fazer o caminho andando. Quando chegamos de volta à Laila, informei que Todori havia recebido a carta e que possivelmente iria visita-la no mesmo dia. Ela parecia uma adolescente animada, e eu era o adolescente ali. Agradeci pelas dicas de como lidar com animais e fui embora.

De fato, criar vínculos e estreitar laços demandavam tempo. Apesar que eu havia notado que o lámen ajudou muito o Gwner a simpatizar um pouco comigo. Talvez quando eu fosse voltar para buscar a doninha, levar um alimento fosse uma estratégia boa.

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Aguardando avaliação

A caminhada era longa. A área residencial ser tão afastada de tudo às vezes não era tão interessante. Eu só esperava que hoje não precisasse carregar ninguém por aí. Pelo percurso, ouvi uns comentários a respeito de um evento que havia iniciado no Posto de Missões. Algo relacionado a um sorteio. Bom, como eu pretendia passar lá mais tarde, deixei para saber os detalhes depois.

Mais uma vez de volta ao local de repouso para animais shinobi aposentados. A jovem cuidadora do lugar estava com um olhar perdido e sonhador enquanto um cachorrinho urinava nela.

— Err... está tudo bem por aí? — A jovem pareceu despertar de um transe quando ouviu minha voz. — Acho que sujou. — Falei apontando para a poça de urina aos pés dela.

— Meu deus, como sou distraída! — Laila prontamente saiu de cima da poça e bateu os sapatos no chão para retirar o excesso. — Oi, Kaien.

— Alguma coisa te atormenta? Qualquer coisa posso levar o pedido ao posto e tal. — Falei com um sorrisinho cínico no rosto. Ela sorriu.

— Eu que sou boba e estou me comportando como uma adolescente.

— Todori? — Ela acenou com a cabeça positivamente. — Então realmente ele veio ontem hm... Quem bom que parece ter sido algo bacana.

— Ele é muito gentil. E você? Voltou hoje ainda para aprender sobre animais?

— Isso! Ontem estudei bastante sobre doninhas. Estou me sentindo mais preparado. Maaaas, gostaria de alguma dica de como adestrar um animal. Não é como só bastasse chegar e jogar alguma coisa nele para captura-lo, né?

— Jamais! Primeiro que se você capturar um animal contra sua vontade, o processo de adestramento será mais difícil e pode comprometer a relação shinobi e animal. — A “adolescente” Laila cedia espaço para a profissional. Eu curtia vê-la falando de forma tão apaixonada sobre eles. — Você percebeu ontem com o Gwner que eles têm gostos próprios e sua própria personalidade.

— Unrum... posso dizer que o Gwner é bem orgulhoso, teimoso, gosta de ser carregado e ama rámem. — Falei procurando o gato pelo estabelecimento. Lá estava ele deitado de barriga para cima em uma almofada.

— Exato. Se você estudou sobre doninhas, já está mais familiarizado então sobre elas. Próximo passo é treinar recompensa. Tente dar um comando e recompensar o animal com algo que ele goste. Ele vai entender que fazer ação x dará recompensa y. Grave bem minhas palavras, um bom adestrador estabelece uma relação de confiança e não de medo ou agressividade.

— Hmm... Certo, então passar um tempo com o animal e tentar realizar comandos com recompensas. Parece fácil.

— Isso vai depender da espécie do animal e de sua personalidade. Cachorros são mais fáceis de adestrar se comparados a um animal selvagem. Isso vai requerer paciência e repetição.

— É. Doninhas são meio ariscas e bem defensivas. Mas ao menos com uma tenho um caminho andado.

— Por que você não pratica aqui? Está vendo aquele rapazinho que urinou nos meus pés? Ele é filhote de uma cadela que teve cria meses atrás. Ainda não tive tempo para treiná-lo. Você poderia ensiná-lo a sentar.

Ponderei por um momento e confirmei com a cabeça. Seria bom treinar mais ou menos como funciona para ter uma noção. Com a doninha eu estaria nas montanhas, não seria um bom lugar para começar a aprender. Laila trouxe o cachorrinho para perto e um pote com alguns biscoitos.

— É simples. Diga o comando, que tem que ser uma palavra e, caso ele acerte, você o presenteia com um biscoito. Como ele não conhece a relação entre comando e ação, você precisa dar um empurrãozinho. — Laila deu uma piscadela enquanto entregava o cachorrinho em uma mão e o potinho na outra mão.

Coloquei o cachorrinho no chão e o olhei pensativo. Ele respondia meu olhar deixando a língua para fora e balançando o rabinho de forma agitada. Ele era fofo.

— Certo. Hmm… Senta!

Falei e empurrei bem fraquinho o bumbum dele para que se sentasse. Dei um biscoito. Imediatamente ele se levantou. Tecnicamente esta seria a repetição até ele associar o comando com a ação.

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Aos poucos o cachorrinho foi começando a associar e eu deixando de auxiliá-lo empurrando a bundinha. Não demorou muito até que ele começasse a sentar apenas com o comando.

— Senta! — Mais uma vez se sentou e joguei o biscoitinho para ele. Com um salto deu uma abocanhada no ar. — Bom garoto! — Fiz um carinho em sua cabeça. — Então, o que achou Laila?

— Você até que leva jeito. — A mulher pegou o filhote em seus braços e o colocou no cercadinho com os outros. — Se quiser voltar e ensinar outros truques para outros animais, será bem vindo. E assim vai aprender que cada animal tem uma forma de se lidar.

— Não seria uma má ideia. Amanhã volto aqui. Hoje irei treinar! — Dei uns murrinhos no ar, mal sabia ela que eu era uma negação em taijutsu.

Me despedi de Laila com a promessa de retornar no dia seguinte. Próximo passo, biblioteca.

Mais uma vez eu retornava para o Lar de animais shinobi aposentados. Foram o que… três dias na semana contando com hoje. Abri a porta do estabelecimento e anunciei minha chegada. Laila já estava me esperando conforme marcado no dia anterior.

— Preparado para um desafio maior? — Ela estava segurando o Gwner nos braços. — Fiquei pensando sobre o que você falou das doninhas serem ariscas, mas você já ter um certo vínculo com uma delas. Então concluí que o ideal seria você treinar hoje com uma criaturinha que cumpra os requisitos. — Laila esticou os braços gesticulando para que eu pegasse o Gwner. A cara de tédio dele já demonstrava que não seria um trabalho fácil.

— Devo ensinar ele a sentar? Ele parece que vive deitado!

— Você ensinará justamente o contrário. Como você já deve ter percebido, Gwner é bem preguiçoso. A exceção foi a tentativa de fuga naquele dia, mas desde então ele vive dormindo e comendo. Ele evita interagir com os outros animais e isso me preocupa um pouco. Tanto o lado do sedentarismo quanto a introversão dele. Esta última será um trabalho posterior. Hoje, quero que coloque ele pra exercitar. — Laila pegou um dos brinquedos e me entregou juntamente com um pote de biscoitos que logo o felino tentou alcançar. — Basicamente é o mesmo treino de ontem. Você joga a bolinha e manda o Gwner pegar. Depois você chama ele de volta e o recompensa. Teoricamente é simples. — Falou sorrindo ao ver o rosto de poucos amigos do gato. — Bom, boa sorte. Vou cuidar dos porquinhos agora.

Eu sequer tivera tempo de falar algo e a jovem se retirou para outros afazeres. E lá fiquei eu com o gato, biscoitos e bolinha nas mãos.

— Certo, Gwner — coloquei ele gentilmente no chão — Vou jogar a bolinha — fiz o gesto de lançar com a mão — e você vai buscar e trazer. Daí te dou o biscoitinho. — Levantei o biscoito para que ele visse bem. — Entendido?

O gato apenas se derreteu na minha frente. Deitou e começou a se lamber despreocupadamente. Revirei os olhos. Não seria um dia fácil.

Minutos andaram e o gato não demonstrava o menor interesse na bolinha. Tentei outros brinquedos: bonecos, bichinhos de pelúcia, ossinhos, chapéus, e dentre tantos outros que tinha por ali. Nada chamava a atenção do gato. Eu precisava pensar. Olhei ao redor procurando qualquer coisa que pudesse ajudar. Meus olhos repousavam no pequeno sino que ficava preso à porta. “Hmm…”

— Laila, posso retirar aquele sino da porta só pra testar um negócio aqui? — Ela olhou de relance com uma expressão interrogativa pro sino e depois para mim, mas acabou fazendo um sinal de positivo com a mão.

Com a ajuda de um banquinho, retirei o sino. Ele era pequeno e produzia um som bem delicado. Me aproximei do Gwner e comecei a balançar o sino. Aparentemente isso havia chamado a atenção dele. O gato se levantou e miou como se pedisse pelo “brinquedo”.

— Ah, você quer? Pega! — E joguei o sino um pouco mais à frente. O felino saltou tentando pegar no ar, mas fracassou. Com um giro rápido, caiu sobre as quatro patas, correu e saltou para pegar o sino. Eu já estava preparado. — Gwner, traz aqui! — Falei fazendo um sinal chamando-o com a mão esquerda, enquanto a outra segurava um petisco. Ele não resistira a um petisco e assim foi feito. Mas ele não trouxe o sino, portanto não dei o prêmio.

Basicamente o treinamento correria desta forma até ele conseguir associar que o prêmio estaria vinculado ao ato de trazer o sino de volta para mim.

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Mais alguns minutos avançavam e o treino parecia não gerar frutos. Demorou um pouco para o Gwner começar a associar que precisava levar o sino para mim. Bom, eu dei algumas dicas. Quando num momento ele empurrou o sino com as patas, eu vibrei para que ele entendesse que era para mover o sino do lugar. Quando ele “chutava” o sino na minha direção, eu comemorava para incentivá-lo; quando era para outra direção, eu mantinha o silêncio.

Quando ele começou a chutar na minha direção, mantivemos o treinamento por mais alguns minutos até eu ter certeza que ele tinha entendido. Com o treino “concluído” eu precisava colocá-lo à prova. Peguei uma bolinha qualquer e mostrei para ele.

— Pega! — Lancei a bolinha. Gwner saltou para agarrá-la e a chutou de volta para mim. — Bom menino! Toma. — Dei um biscoitinho para ele e tentei fazer carinho em sua barriga, mas precisei desviar de um arranhão.

Laila aplaudiu de longe.

— Vai ser bem mais fácil colocá-lo pra exercitar agora. — A jovem pegou o felino nos braço e o colocou de volta no cercadinho com os outros animais. — Você lidou com um animal arisco e um tanto preguiçoso. Não sou especialista, mas talvez tentar adestrar a doninha deva ser seu próximo passo.

— Obrigado pelo incentivo. Acho que já está na hora de tentar mesmo. — Recolhi o sino usado para o treino e o prendi novamente acima da porta. — Volto outra hora!

Saí correndo do Centro Comercial em direção ao Posto de Missões. Se algo estava sendo sorteado ali, certamente dezenas de gennins iriam lutar entre si para ganhar seja lá o que fosse.

Eu estava tão empolgado com aquele saco de dinheiro que ele parecia pesar mais de uma tonelada na minha mão. Tinha recebido pela missão ryous suficientes para comprar minha própria espada, finalmente! Depois do ensinamento que tive conversando com aqueles dois senhores samurai, entendendo a importância de coisas que antes não tinha noção, essa aquisição tinha muito mais significado e relevância para mim. Não era o simples comprar de um item, era ter a oportunidade de portar algo que estaria ligado a minha vontade de guerra, fazendo-me ser um dos fragmentos deixados pelo antigo General Mifune. Eu iria treinar muito e mostrar pros dois senhores o quanto eu os respeitava e queria seguir, pelo menos no que se refere a kenjutsu, seus passos.

— Licencinha, licença... — fui me esgueirando por aqui e ali desviando das pessoas que se tumultuavam pelo centro comercial.

Pelo que me recordo a loja de armas ficava logo ali mais em frente e devia estar aberta, pois não estávamos no horário do almoço ainda.

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Considerações: